quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dieta mediterrânea pode retardar o declínio cognitivo do envelhecimento

Autora: Megan Brooks
Uma nova pesquisa sugere que os idosos que fazem uso de uma dieta mais próxima à mediterrânea tradicional (MedDiet) vivenciam taxas mais lentas de declínio cognitivo com a idade. 
A nutricionista Christine C. Tangney, do Department of Clinical Nutrition, Rush University Medical Center de Chicago, Illinois, declarou ao Medscape Medical News: "nossos resultados nesta coorte prospectiva sugerem que a utilização de uma dieta mediterrânea não é apenas boa para manter o coração saudável, mas também para promover o funcionamento saudável do cérebro".
 

O estudo Chicago Health and Aging Project 
Os resultados são baseados nos dados de 3.790 participantes com idade média de 75,4 anos inscritos no Chicago Health and Aging Project, um estudo em andamento sobre a saúde cognitiva em adultos com 65 anos ou mais.
Eles foram submetidos aos testes padrão de função cognitiva, em duas ou mais ocasiões, com intervalos de três anos.
Os pesquisadores usaram uma versão modificada do questionário de frequência alimentar de Harvard para avaliar o nível de aderência a dois padrões alimentares.
Um deles era o padrão MedDiet tradicional, que é rico em azeite de oliva, peixe, nozes, frutas e legumes, com quantidades moderadas de vinho e pobre em alimentos lácteos e carne vermelha.
O outro era o Healthy Eating Index 2005 (HEI-2005), que se baseia nas recomendações do Dietary Guidelines for Americans de 2005. 
A pontuação máxima para o MedDiet, o que significaria a adesão completa, é 55 e a pontuação média dos participantes foi de 28,2. A pontuação máxima para o HEI-2005 é de 100, e a dos participantes foi de 61,2. 
Os participantes com maior probabilidade em aderir ao MedDiet eram os de etnia branca, não fumantes, usuários de multivitaminas, com maior nível educacional e menor índice de massa corporal.
Aqueles com maior pontuação MedDiet apresentaram menor propensão a acidente vascular encefálico, hipertensão e depressão, além de apresentar uma pontuação global maior basal na testagem cognitiva.
 

Idade cerebral: “anos mais jovem” com a MedDiet 
Segundo os pesquisadores, uma pontuação alta no MedDiet (indicando maior aderência a este padrão alimentar), foi associada à taxas mais lentas de declínio cognitivo ao longo do tempo após o ajuste de idade, sexo, raça, educação, participação em atividades cognitivas e energia. 
Os autores do estudo observam que, "se estivéssemos comparando duas pessoas com pontuações MedDiet ou pontuações MedDiet de vinho, que estavam 10 pontos de distância uma da outra, a pessoa com a maior pontuação agiria como se fosse três anos mais jovem do ponto de vista cognitivo". 
Por outro lado, a maior pontuação na HEI-2005 (que atribui menor peso para peixes, legumes e ingestão moderada de álcool) não se relacionou com os escores cognitivos basais nem com a taxa de declínio cognitivo. 
Ao ser procurado para comentar, o Dr. Nikolaos Scarmeas, Professor Associado de Neurologia do Columbia University Medical Center, em Nova York, disse que a descoberta sobre as associações entre a MedDiet e um baixo risco de declínio cognitivo foram "muito fortes", mas que não houve associação entre a HEI-2005 e um declínio cognitivo, "ressaltando os benefícios potenciais de uma dieta do tipo mediterrâneo em comparação com outros hábitos alimentares saudáveis inespecíficos." 
O Dr. Scarmeas acrescentou ainda que o fato de os autores do estudo terem utilizado o sistema de pontuação MedDiet em relação aos consumos observados em populações gregas é um ponto forte do estudo.
A Dra. Tangney explicou que “outros grupos de investigação avaliaram cada componente com base em pontos de corte baseados na distribuição populacional, e não na população grega". 
"É muito importante – e ao mesmo tempo reconfortante – replicar os achados anteriores em grupos diferentes e populações", como fez este estudo, disse o Dr. Scarmeas. 
O estudo de Chicago é coerente com trabalhos anteriores como um estudo de coorte com três etnias no norte de Manhattan, no qual o Dr. Scarmeas estave envolvido.
Nesta pesquisa, aqueles que apresentaram altas pontuações MedDiet tinham um risco menor de déficit cognitivo leve e de doença de Alzheimer.
 

Bases biológicas 
A Dra. Tangney e seus colaboradores comentaram em seu artigo que não há uma base biológica para o aparente efeito neuroprotetor da MedDiet
Eles observam que "uma centena de estudos – ensaios clínicos e análises de grupo – apontam para o valor deste padrão alimentar na redução dos mediadores de estresse oxidativo e na expressão dos marcadores pro inflamatórios e antiinflamatórios que parecem atuar na patogênese de doenças vasculares, bem como na doença de Alzheimer".
Também é possível que a ingestão da MedDiet por anos possa prevenir, ou atenuar, a doença cerebrovascular e ainda influenciar o β-amilóide ou o metabolismo da proteína tau. 
A Dra. Tangney acredita que é "importante educar, apoiar e motivar os nossos pacientes a fazer as mudanças na dieta no sentido de refletir uma alimentação do tipo mediterrânea, que pode proteger o seu cérebro das mudanças cognitivas.” 
E acrescentou: "isto significa a necessidade de uma nutricionista com experiência para avaliar e elaborar este novo plano de dieta. Então, todos os membros da equipe de saúde podem apoiar o paciente a se comprometerem com estas mudanças." 
O estudo foi patrocinado por uma concessão do National Institute on Aging. Os autores do estudo e Dr. Scarmeas não revelaram relações financeiras relevantes. 

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